O Fondo Local de Música do Concello de Rianxo formou-se inicialmente com dois espólios que resultaram fundamentais para o estudo da vida musical da nossa vila no primeiro quarto do século XX. Trata-se dos arquivos pessoais de José Pérez e de José Ramón Nine Piñeiro, ambos os dois militantes do partido galeguista em 1933.
[Saúde e República. Xosé Comoxo & Xesús Santos. Concello de Rianxo, Rianxo, 2006] Resulta muito interessante ver a quantidade de versões do hino galego que temos, mesmo alguma imprensa tal como a histórica Poudal/J.A. Veiga, a primeira edição registada legalmente.
©Xoan Antón Castro Barreiro
Uma destas versões resulta peculiar pois é feita para grupo de cordas, guitarra + bandurras. Este tipo de formação foi o preferido de José Ramón Nine Piñeiro, violinista e guitarrista competente. A comparação com outras partituras atribuídas a Nine, a sua caligrafia, o tipo de papel usado –com marca de água A.S.S.–, o contexto no que foi encontrado, a versão na que se baseou... leva-nos a pensar que foi realizada nunca depois da década de 20.
José Ramón Nine Piñeiro (1895-1936) era tesoureiro em 1918 da Unión Obrera, recentemente criada, da que figurava como presidente Manuel Rodríguez e de secretário Vicente Frieiro. Fazia parte da banda de música, sendo aluno da academia de José Benito Piñeiro Jamardo. Deveu estudar na
Sociedad Económica de Amigos del País de Santiago de Compostela, tal vez violino.
Nine Piñeiro foi o grande rondalhista desses anos, continuando a tradição dos Losada. Este apelido está desde antigo associado às agrupações de cordas:
«La orquesta de Rianjo que dirige el joven e inteligente Sr. Losada ha cumplido con su deber, captándose tanto él, como sus discípulos las simpatías de los Sres. Socios e individuos de la Comisión de Baile [no Recreo Padronés].» Gaceta de Galicia: Diario de Santiago. Nº 57 11/03/1879
Em 1917 Nine Piñeiro dirige a rondalha de Os XIII, grupo inspirado por Arcos Moldes e do que fazem parte os Dieste e os Pérez. Também é encarregado de dirigir as comparsas do entrudo promovidas por Arcos. A sua relação com este tipo de agrupamentos levou-o a dirigir um concerto em Ribeira só quatro meses antes da sua morte a causa da tuberculose:
«Se hizo merecedora de aplausos la Rondalla de Rianjo, que en dicha velada benéfica prestó colaboración, habiendo actuado con gran acierto y ejecutando entre otras las obras "Leyenda del beso", "Danubio Azul" y "El sitio de Zaragoza". Reciban su director, don José Ramón Nine y demás componentes, una sicera y cordial felicitación.» El pueblo gallego. 29/03/1936
Na pós-guerra, anos depois da morte de Nine, um grupo de ex-alunos formam uma rondalha que leva o seu nome.
O hino.
O Hino Galego de Nine para guitarra e bandurras é, na realidade, uma adaptação da versão do mesmo para orfeão e acompanhamento de piano (tenores 1e 2 e baixo) que já aparece publicada nos
Apuntes para la historia del Centro Gallego de la Habana [La Habana, Imprenta "Avidador Comercial", de Miranda, López Seña y Cª., 1909]. A guitarra -em clave de fa– segue quase literalmente a pauta da mão esquerda do piano e a primeira bandurra a do primeiro tenor. A segunda bandurra só está esboçada mas é claro que vai seguir a linha correspondente do segundo tenor.
Enfim, o documento desde um ponto de vista exclusivamente musical, não tem muita importância pois é uma transcrição quase literal duma obra para orfeão e piano a grupo de bandurras e guitarra. Para mim o verdadeiramente importante são as conclusões que desde o plano historiográfico ou do seu contexto social pudéramos tirar. Assim:
- Para mim é surpreendente que Nine utilize a partitura dos
Apuntes... para construir a sua versão. Obviamente não estou a dizer que ele tivesse essa edição de 1909, pode usar qualquer cópia ou edição posterior, mas é claro que continua a tradição da impressão havaneira. A partitura de Nine está na tonalidade de sol, igual que a dos
Apuntes... Existem outras edições posteriores do hino, por exemplo, em fá.
- Considero igualmente importante o fato de os galeguistas de Rianxo utilizar o Hino Galego em épocas das Irmandades da Fala e posteriormente, do Partido Galeguista. O papel de José Ramón Nine Piñeiro na música local é muito importante e resulta imprescindível estudar a estes músicos locais para explicar como um hino criado em 1909, só uma ou duas décadas depois, está perfeitamente socializado, tendo em conta a carência na Galiza dum governo autónomo.
Original Nine Piñeiro.
Bibliografia sobre o Hino Galego:
-
O hino galego. Documentos históricos. Ferreiro, Manuel.
[http://ruc.udc.es/dspace/bitstream/2183/16028/2/Ferreiro_Manuel_2007_Himno_Galego_Documentos_Historicos.pdf]
-
Os símbolos da Galicia. Barreiro, Xosé Ramón & Villares, Ramón.
[http://consellodacultura.gal/mediateca/documento.php?id=102]